domingo, 12 de dezembro de 2010
APENAS UNS VERSOS
Compulsivamente o sol venceu o gris,
das ondas e do céu mostra-se ameno,
em toda a sua generosidade rarefeita,
lembrando a sua génese contrafeita.
Continua a brilhar na noite insalubre,
com fogachos de luzes intermitentes,
e lá dentro nas casas as luzes brilham,
enquanto à mesa as pessoas se animam.
E guerreiam as estrelas, pela posição,
que julgam de direito no espaço sideral,
caem, levantam-se se metarmofeiam,
e do brandíssimo Universo se alheaião.
E uma criança com bola joga a rodapé,
esquecendo a chuva e o frio lá fora,
bola para cá, bola para lá, num ritmo
preciso, que o sono, brando, é íntimo.
Jorge Humberto
11/12/10
DE MUSA SE FEZ SILÊNCIO
De musa escolhida,
a musa descabida,
foi um passo
a rememorar,
levando o poeta
a se atentar,
que estava só sem
palavra da escolhida,
com seus versos
falhos de palavra amiga.
Assim sem musa,
que o poeta usa,
na entrega total,
com setas nos braços
e músculos,
astuto chacal,
devorei géneses,
que do poeta foi um dia,
os poemas cantados,
em firme sincronia.
Tudo isso acabou,
tudo isto findou,
meus versos
vão sozinhos,
na noite sem par,
mais os reversos,
do poema difuso;
não me importa,
nem quero saber,
se há alguma porta.
Jorge Humberto
10/12/10
TRISTE LUAR
Cai a noite no cinzento cru do rio,
vem branda mas trás tanto frio,
que eu sou obrigado a lembrar,
que é o inverno lá fora, a regelar.
A tudo colhe o seu braço esguio,
muros, casas, de negrume tingiu
a mão que a cobre, sobre o luar,
sem estrelas no céu a enamorar.
E as pessoas que de longe cingiu
perguntam-se se alguém partiu,
ou se é assim, a tristeza a chegar,
de mansinho, parecendo chorar.
Jorge Humberto
09/12/10
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
MEDO
No dia em que me esquecer de ti,
de mim me olvidarei para sempre…
como vagabundo andarei por aí,
sem passado, futuro ou presente.
Desleixado em meu caminho serei,
entre esquinas, dormindo escadas…
e tudo que alcançar é aquilo que não sei,
nem quantas serão aqui as estradas.
Meu nome deixarei ao esquecimento,
com janelas fechadas para o prazer…
e viverei num eterno entorpecimento,
de todo perdido, sem saber o que fazer.
E quando, enfim, a omissão se formar,
apoderando-se de mim sem remissão,
num golpe de asa, hei-de me lembrar,
que um dia, já foi teu, o meu coração…
Jorge Humberto
08/12/10
MAGNÓLIA
No meu peito aberto, magnólias
e nardos; mais as rosas
esquecidas, no teu regaço aberto,
não por acaso as deixei lá devidas,
comigo aqui por perto.
De pétalas cubro o teu sono,
que eu desvendo, brincando
com os teus sonhos, de cá para lá,
e de lá para acolá,
como que levitando.
E acordado em mim, ciente de
minha postura, teu corpo desvendo,
pelo toque suave de minha mão,
que tem cheiro a terra e desfolhada,
e é um rito qualquer, de antemão.
Acordas; sorris; e voltas a adormecer,
na quietude da noite branda.
Fecho as janelas e, deitando-me,
a teu lado, sopro-te um beijo,
de roupa te cobrindo, ajeitando-me.
Jorge Humberto
06/12/10
AH, DÊEM-ME ROSAS!
Quis Deus que eu fosse esta fraca figura,
Que não tivesse nem terras nem empresas,
E deu-me por espinhos excessiva ternura
Com que visto as minhas muitas incertezas.
E o sono vem sempre tarde por esta altura,
Quando a partilha é solidão e reais certezas...
E o vetusto caminho, de minha candura,
É uma paisagem vazia de mãos ilesas.
Assim sou dois, o que quer e o que rejeita.
E revolta-se-me o coração, a toda a hora porvir,
A vida e com ela o amor que me enjeita.
Ah, dêem-me rosas, e um mar de calma!
Brancos braços de mulher onde dormir,
O meu desassossego, a minha alma!
Jorge Humberto
(07/08/2003)
domingo, 5 de dezembro de 2010
CANTIGA DE AMOR
Com flores te recebo e calo
porque no silêncio
está a tua voz de quebranto
e de amor eterno,
como este céu que te canto
Céu de estrelas e de um pranto
que é mais ausência
que dor no peito, chora baixinho
a guitarra em meu leito,
cai a noite segura devagarinho
E o beijo recebido com carinho
adormece nos braços
de uma canção,
que na areia das praias e das conchas
é toda esta minha emoção
Jorge Humberto
05/12/10
SOBRE O NATAL
De bambinelas e de cobertas coloridas,
se enfeitam as janelas;
e as casas enchem-se de luzes, parecidas com elas.
Na cozinha vai um grande rodopio,
de volta das refeições;
escutam as crianças histórias, cheias de emoções.
Todos saem para comprarem os presentes;
as lojas estão cheias;
e as prendas ficam dependuradas, dentro das meias.
O bom velhinho virá de trenó, com seu
gorro vermelho;
trará brinquedos aos molhos e até um espelho.
E de manhã há uma grande alegria e uma enorme
emoção;
que palpitando vai e vem dentro de cada coração.
É que todos querem ver o que lhes calhou em sorte,
no meio de tanto papel;
e a criança segura na mão, ora o brinquedo ora o cordel.
E no chão da casa, ergue-se uma distinta cidade,
com peões e passadeiras;
sirenes de brincar, desenrolando mangueiras.
Todos estão felizes, menos um menino, que espreita
pela vidraça;
vendo lá fora um mendigo enregelando na praça.
Lembremo-nos, que o Natal é para todos, não só para
alguns quantos;
quem dera um sorriso… se os mendigos não fossem tantos.
Jorge Humberto
01/12/10
TIPO ASSIM II
Nada me move de encontro a nada, exceptuando o arcaico estático e fundamentalista, que, de vistas curtas e temeroso, arroga-se a não reconhecer mais do que vá além de seu mundo, restrito e predisposto, na ideia de que algo, a existir, não se concebe para ser mas para manter-se.
Acredito que falta, hoje em dia, um sentido pleno da Moral, do que é a Moral e
de sua importância para o Homem, para o seu dia a dia, no contacto directo com os demais.
De facto ela (Moral) nem precisaria de existir, como algo que devesse seguir-se, a fim de evitar a total anarquia entre os homens, se cada um de nós, soubesse esta verdade:
“a liberdade de um acaba sempre onde a do outro começa”.
Que temos nós hoje, neste nosso Mundo, se não uma mescla imensa de tribos, cada uma dizendo mal da outra, por as últimas não seguirem as suas ideias, o seu ideal, do que deve ser o bem viver e consequente felicidade, donde terá de sair forçosamente a inevitabilidade que as mantenha e à sua crença defensáveis?
Como disse, nada me move de encontro a nada, excepto o que não medra, por acomodatício e parco alimento, fechado que está em vitral kantiano e nada pluralista, a modos que fosse como que um portador exclusivo de um qualquer gnoma, imune ao membro de outras espécies, possivelmente causadoras de danos irreparáveis, de seu coto incestuoso e fratricida.
Do mesmo modo é aplicável, isto que digo, ao que tem medo de perder pé, tomando desde cedo
por afronta tudo o que é traço diferente e ousado, deixando-o de sobreaviso e renitente, sempre que se lhe pede passo a dar.
Eis aqui, o cacógrafo e o mal, instalados nas cercanias dos muitos quintais que estão proliferando por esse Mundo afora.
Jorge Humberto
(21/07/2004)
TU ÉS O AMOR
Meus pensamentos, de pura
adrenalina,
são contigo e mais ninguém.
Sinto-me extasiado quando
chegas, lá
de longe, trazendo uma flor.
Segura-la na mão, em suave
toque,
eu bem saberei, cuidar dela.
Entregas-ma em mãos, frágil
flor, que eu vou
pôr num vaso, pra ela crescer.
Assim o sol a sustente, o amor
a proteja,
das agruras do vento da chuva
Orlada de flores enfeitando-te
o cabelo,
sobressai o sorriso encantador.
E eu como se a vida fosse nossa
levo-te a passear,
ilustres árvores e belos jardins.
Jorge Humberto
22/11/10
AMAR EM SILÊNCIO
Amo em segredo uma senhora,
despojo-me de todos os meus
bens, alcançá-la é o destino,
com que a sorte me prometeu.
Ante meus abraços ensejados,
teus braços esperam os meus,
assim sonho e até me convenço,
que o que é teu também é meu.
Raia o sol e o desejo que é meu,
na prematura manhã, olvidada,
quem dera que o beijo teu fosse
meu, realizando-se na madrugada.
Ah, senhora, de meus encantos,
não digas nada, e, amando, cala.
Jorge Humberto
21/11/10
FLOR QUEIMADA
Minha voz teima em não se calar,
rodopia, gira, contorna,
não se enfeita de flores
nem se adorna de roupa colorida.
É feita de nervos e de sangue, setas
nos braços, relembrando a dor,
dos que se passeiam sem nada,
nem pão nem água nem cor nem som.
Boca de escárnio, rasgando o rosto,
o estupro da mente cansada,
ser igual a tantos outros, os demais,
como alimento para as esconjurações.
Morte lenta ainda em vida, jazem no
chão as flores queimadas, pelo toque
da mão absurda, a carne, o cheiro,
mais o quanto nos é possível aguentar.
Olhos abertos à evidência nocturna,
sombras de gatos, amaciando os muros,
e eu que vou nesta vida a cantarolar,
sou excepção à verdade oculta, dissimulada.
E calo e respeito, a dor que vos dói…
Jorge Humberto
04/12/10
CEGAMOS TODOS
Caminho por entre escombros e paredes
e arranco aos olhos a ferida, para que possa ver alguma beleza aqui.
Mendigos intransigentes, estendem a mão etérea,
no vazio de nossas consciências e de nossos problemas caseiros.
Muralhas caem, desfazendo castelos antigos,
só nós, que somos pomposos demais, mantemo-nos de pé, ante a peleja.
É que o «coto» é precioso demais e é preciso
procriar e ter descendentes, que sigam nossos passos nos lustrosos vitrais.
Homens sem membros, percorrem a cidade,
com esforço, dirigindo-se para os escritórios, como olhos de mosca.
Estatuetas e quadros, nos pregos das paredes,
exibem, para que todos vejam, a sua glória mumificada e poeirenta.
Aqui só entram os familiares e os filhos incestuosos –
é impossível haver misturas de sangue, só a congeminação é possível.
Estes são os novos patrões, que dão lugar ao imiscível,
e o lápis azul funciona de novo, para rasurar o que não lhes interessa.
É a inquisição no seu mais alto expoente, que
controla os jornais, televisões e rádios, num retrocesso a Salazar.
Jorge Humberto
03/12/10
AMAR A QUEM
É indiscutível que eu amo.
Mas amo a quem?
Aos outros, como a mim
mesmo. Jazeria no chão,
sem importância, se assim
não fosse. Cabe-me a mim
amar para ser amado.
Amar é dar importância é
elogiar a outra pessoa e é
reconhecer-lhe valor para
singrar na vida. Vida dura
penosa que nos calha em
«sorte».
Para amar é necessário
desprendermo-nos de
nós mesmos, caminhar-
mos solitários, até que
venha a sede de estar em
sã comunhão e vivência,
com os demais.
Ninguém perdura sem o
amor, que perpassa do
outro e a meio caminho,
nos alcança.
Amo as coisas como elas
são, sem lhes querer
alterar o sentido nem o
preceito original.
Jorge Humberto
02/12/10
DE TARDE LEMBRANDO
De gris se veste o céu, em dia
de desassossego;
murmurejar de ondas, além-mar,
que chega até mim, cobrindo-me os olhos,
de esperanças e de bonanças.
Os caniçais estão podres e já não aninham,
os migrantes pássaros,
que viajaram toda a noite, em uníssono,
para reclamarem seu pouso de asas flectidas,
abertas às marés.
Tudo está materializado pela mão do Homem,
e sobejam
uns poucos verdes, para cantar
a natureza, que vai-se subtraindo, para
dar lugar às imensas fábricas.
Escritórios com olhos de mosca estão
fechados;
e os comboios passam, levando e trazendo
gente, no suor despertino,
de seus corpos desfigurados.
Jorge Humberto
29/11/10
SE TE SOUBESSES QUE TE AMO
Se te soubesses o quanto te amo,
saberias quantas primaveras,
nascem em teus olhos.
Que o vento é brisa suave,
tocando teus lábios,
poisando suas mãos no teu cabelo.
Se te soubesses o quanto te amo,
não perderias tempo com esperas,
e correrias para meus braços, cheia de graça.
Virias com mãos de ternura,
colhendo as minhas,
aconchegando-as em teu regaço.
Aprazíveis se tornariam as noites,
em que o temor é grito
e os gatos se perdem nas sombras.
Se tu soubesses o quanto te amo,
dirias do tempo o tempo,
em que não estamos abraçados.
No meu peito se rasgariam rios,
e florestas encantadas,
se abririam, aos teus mais secretos segredos.
E no mais discreto alvor,
deitarias teu rosto no meu colo,
para que te disse-se baixinho, que te amo.
Jorge Humberto
26/11/10
O BEIJO QUE TE DEIXO
Leva o vento o meu beijo,
por entre mares e marés,
que livre seja o ensejo,
derramado a meus pés.
Por entre mares e marés,
norteando meus passos,
vai comigo quem tu és,
enlaçada em teus laços.
Enlaçada em teus laços,
de carmesim o vestido,
trazes flores nos braços,
em teu rosto contido.
De carmesim o vestido,
noites acesas no cabelo,
vens de coração despido,
para que eu possa vê-lo.
Para que eu possa vê-lo
e levar-te o beijo meu,
guarda-lo na mão, tê-lo,
como tudo que é só teu.
Jorge Humberto
24/11/10
VERSOS NA NOITE
Cai a noite, de negrume é a
imensidão,
e as flores, inda abertas,
despertam meu coração.
Olho, como que pousada,
a lua emergente,
e o céu, indefinível clarão,
ilumina toda a gente.
Caem as estrelas sobre as
águas caladas,
e o rio acolhe, sem risco,
as pedrinhas estreladas.
Tudo isto a horizonte, que
a orla já calou,
misto de fantasia ou ilusão,
pedra que luzindo medrou.
Tudo o mais são sombras,
como que escoriando
as paredes, e à luz da lua,
castelos vão lembrando.
Adormecem as pessoas,
que a lua vai nua,
dormem bichos e pobres,
ao calhas na rua.
Jorge Humberto
23/11/10
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