Jorge Humberto

Nascido, numa aldeia Portuguesa, dos arredores de Lisboa,
de nome, Santa-Iria-de-Azóia, Jorge Humberto, filho único,
cedo mostrou, toda a sua sensibilidade, para as artes e apurado
sentido estético.
Nos estudos completou o 6º ano de escolaridade, indo depois
trabalhar para uma pequena oficina de automóveis, no aprendizado de pintor-auto.
A poesia surgiu num processo natural, de sua evolução,
enquanto homem. E, a meio a agruras e novos caminhos apresentados, foi sempre esta a sua forma de expressão de eleição.
Auto didacta e perfeccionista (um mal comum a todos os artistas), desenvolveu e criou, de raiz, 10 livros de poesia, trabalhando, actualmente, em mais 6, acumulando ainda
mais algumas boas centenas de folhas, com textos seus,
que esperam inertes, no fundo de três gavetas, a tão desejada e esperada edição, num país, onde apostar na cultura, é quase que crime, de lesa pátria.
Tendo participado em algumas antologias e e-books, tem alguns prémios, sendo o mais recente a Ordem de la Manzana,
prémio atribuído, na Argentina, aos poetas e escritores, destacados a cada ano.
A sua Ordem de la Manzana, data do ano, de 2009.
Sendo ainda de realçar, que Umberto Eco, também foi merecedor, de receber essa mesma Ordem, de la Manzana.
Do mais alto de mim fui poeta... insinuei-me ao homem...
E realizo-me a cada dia ser consciente de muitos.
Quis a lei que fosse Jorge e Humberto, por conjugação
De um facto, passados anos ainda me duvido...
Na orla do Tejo sou Lisboa... e no mar ao largo o que houver.
Eu não sei se escrevo o que penso se penso o que escrevo.
Tenho consciência que escrevo o que me dita a alma e que escrevo para os outros, como forma de lazer ou de pura reflexão.

Escrever é um acto de crescimento para o seu autor e é uma forma de valorizar a vida. Não sei porque escrevo mas sei porque devo escrever.

Menção Honrosa ao Poeta Jorge Humberto

Entrevista do poeta concedida ao grupo Amantes do Amor e da Amizade

Quem é Jorge Humberto?
R: Jorge Humberto sempre teve apetência para a arte,
através do desenho e da pintura. A meio a agruras da vida,
nunca deixou o amor pelo seu semelhante. Auto didata e perfeccionista,
sempre levou seu trabalho através da sabedoria e da humildade.

Em suas veias tem sangue poético hereditário ?
R: Não, sou o único poeta da família.

Como e quando você chegou até a poesia?
R: Cheguei à poesia quando estava num castelo em França,
e escrevi um poema, altas horas da noite, sobre a liberdade
que todo o Homem anseia.

Como surgiu sua primeira poesia e se ela foi feita em momento de emoção?
R: A resposta foi dada acima.

Qual o seu tema preferido ?
R: Não tenho um tema preferido, escrevo sobre tudo, mas como poeta,
que quer aliviar a solidão de muitos de meus leitores, tenho escrito de há tempos para cá, sobre o amor e reflexões e alguns poemas bucólicos.

É romântico ? Chora ao escrever?
R: Acho que sim, que sou romântico, mas os outros falarão disso melhor do que eu. Já chorei a escrever.

Qual sua religião?
R: Agnóstico


Um Ídolo?
R: Fernando Pessoa

Você lê muito? Qual seu autor preferido?
R: Leio todos os dias, quando me deito. Meu autor preferido é o que referi como ídolo.

Quais seus sonhos como poeta?
R:Ver meus poemas impressos em livros e que meus poemas
tragam algo de bom a quem me lê

Como e onde surgem suas inspirações?
R: Surgem naturalmente, através do que vejo, sinto e penso.


Você já escreveu algo que depois de divulgado tenha se arrependido?
R: Digamos que meu lado perfeccionista, já me levou a alterar alguns poemas originais. Mas depois de algumas poesias, em que lhes dei outro cunho, não achei por bem mexer, naquilo que nasce de nós, assim como nascem são meus versos, que divulgo.

Qual o filme que marcou você?
R:" Voando sobre um ninho de cucos/

Como é o amor para você?
R: O amor é dádiva, compreensão e um bem querer de um querer bem.


Prêmio conferido à Jorge Humberto em setembro de 2011

Prêmio conferido à Jorge Humberto em setembro de 2011

Cuidando dos Jardins

Cuidando dos Jardins
Jorge Humberto-2011

Poeta de Ouro mês de Novembro de 2011

Poeta de Ouro mês de Novembro de 2011

domingo, 20 de junho de 2010


ATÉ SEMPRE JOSÉ

Sinto-me só e abandonado
a cultura perde um de seus grandes
vultos e eu não tenho como mudar
isso, senão resignar-me às evidências.

Pessoas que se dizem crentes de Deus
e cultas aproveitaram a morte de alguém
para dizer as maiores burrices e para
achincalhar o bom nome de José Saramago.

Chamaram-no de inócuo e de mentiroso
isto a alguém que estava no leito de sua
morte, com direito a ser respeitado por
todos os quadrantes da sociedade.

Hoje sinto-me só e abandonado
porque a lusa pátria ficou mais pobre
e não há nada que possa mudar isso
senão levantarmos nosso punho em
solidariedade.

Vieram os mais sentidos pesares das altas
esferas mundiais, só na sua terra José é
malfadado e gozado, com a maior das
baixezas a que assisti até agora.

Escarraram na cara do talentoso escritor
disseram que ele merece dó, nem dos
animais se deve ter dó, pois são ismos
que se dão aos pobres desgraçados, humanos
como nós.

Parte de mim morreu com a morte do grande
Escritor, que nos deixou perfeitamente lúcido
e a trabalhar num novo livro que não verá a luz
do dia por não ter seu pai para conclui-la.

Hoje sinto-me mais triste e só
e não fora as minhas letras possivelmente
definharia, num choro compulsivo
por tão grande perda para todo o Universo
cultural.

Jorge Humberto

SOBRE OS FALSOS PROFETAS

Há toda uma cultura das igrejas serem receptoras de objectos de culto por parte das pessoas, habituadas a darem o seu dinheiro e ouro e peças de artesanato, para as mãos dos padres e pastores, falsos profetas que mais não fazem do que sujeitar as pessoas ao pecado e à vergonha, como seres humanos que somos, eles não enaltecem as pessoas só a igreja e Deus, pouco se importando com a pobreza e a desgraça, claro que há padres e padres, tem uns que são maravilhosos seres humanos e fazem colectas para os pobres e evangelizam sem forçar nem obrigar a nada. Mas as igrejas são antros de miséria espiritual, tanto que as pessoas vão às igrejas professar uma coisa e depois no seu dia-a-dia não cumprem, fazendo-as pessoas vulgares e ardilosas.

Nada como acreditar em algo sem ser preciso prestar culto nem a isso se sentir obrigado. Depois da morte do consagrado e único premio Nobel da Literatura portuguesa, muitos vieram achincalha-lo com demandas de maus perdedores, mostrando-se pessoas ressentidas e com pouco senso na cabeça, conspurcada pelo culto que preconizam a Deus. Deus disse que não queria objectos que professassem a sua igreja, mas as pessoas ao longo de milhares de anos, o que têm feito é isso mesmo, desrespeitando a palavra de Deus.
Pessoas com uma rara incontinência verbal cegos e burros tentaram denegrir o José Saramago, homem de frontalidade, de rara inteligência e talento como não há mais, por este se insurgir contra a igreja e a Bíblia com toda a razão, a bíblia é sim um livro de «maus Costumes» onde filhas podem casar com pais e conceber filhos, à luz de uma ignóbil profecia, para gerar o fruto do seu fruto, não interessa com, quem. A Bíblia diz “olho por olho, dente por dente”, reis mandam assassinar judeus e a Bíblia não contrapõe.

O Vaticano é um estado podre de rico, alguma vez tiraram os relicários dos bispos e padres, a luzir ouro para dar de comer aos pobres? Não e mais grave ainda que agora que se fala de tantos padres pedófilos, diz-me bem do que é aquele antro que os protege para fugir à policia, pela mão do senhor todo-poderoso das catacumbas o teólogo Ratzinger, que virou papa quando não tiveram coragem de eleger um Papa africano, para ajudar o povo sofrido de África.

José Saramago era sensível a tudo isto, era do povo, e caiu sobre eles sem piedade no «Memorial do Convento» e «O Evangelho Segundo Jesus Cristo» e mais recentemente com o seu romance «Caim», que tanta celeuma levantou, atingido o escritor não pelo seu brilhantismo mas por ser comunista. O que é que a política tem a ver com a obra de Saramago, ele era e é Universal.
Como diz o cineasta Brasileiro, Fernando Meirelles, “o mundo ficou mais burro e mais cego”, só quem não dá valor à obra de Saramago, vive numa perfeita disfasia que lhe atrofia a fala e o pensamento, são aqueles que estão acostumados ao fundamentalismo e ao fanatismo acima de qualquer prova contraditória e reflectida antes de ser referida, como fazia José Saramago.
Morreu um grande Homem e um grande Talento, que faz inveja a muitos desde que lhe atribuíram o prémio Nobel da literatura em 1998, contavam os tansos que a academia de letras fosse tão cega como eles, mas não e fez jus a José Saramago atribuindo-lhe muito bem o Nobel, com o Vaticano e a igreja e um tal de Sousa Lara a engolir em seco, mas nunca lhe perdoaram essa “afronta” para cérebros mesquinhos, que têm palas nos olhos como os burros.
Viva José Saramago!!!

Jorge Humberto
19/06/10


HOMEM DO POVO
(a José Saramago)

Meu caro José, nascido
numa aldeia alentejana
tens a humildade desse
povo bem vincada em
tudo quanto fazes.

Desde “Viagem à minha
terra”, escrito aos vinte e cinco
anos foi a partir dos
quarenta que te dedicaste
por completo à literatura.

José homem de ideias bem
delineadas e de ideais bem
definidos sofreste a clausura
do teu país por irem de
encontro a ti, sem te respeitar.

Junto com Pilar tua companheira
rumaste a Espanha, à ilha
de Lanzarote, onde montaste
guarda e o escritor teve aí
os seus mais populares escritos.

O «Evangelho segundo Jesus
Cristo”, teve a mão da
inquisição do governo da
altura, para vetar teu nome
para o prémio Nobel da Literatura.

Mas contra todos esses negros
corvos, gente bem formada
e justa soube retribuir-te o teu
trabalho e entregou-te o prémio
que tu sabias que chegaria a ti.

“O que é meu às minhas mãos
vem parar” dizias tu antevendo
que estavas sozinho mas
a trabalhar bem e a criar livros
de grande qualidade.

Adeus José teu espólio de
grande riqueza, traz-nos
ensinamentos para todo o
sempre. Homem de uma só
palavra soubeste singrar

neste mundo de podridão
e cabeça bem erguida
construíste a tua obra
sempre defendendo a tua
dama: os livros que escrevias.

Jorge Humberto
18/06/10

A NOITE DOS CRISTAIS PARTIDOS







Estradas paralelas
percorrem meu corpo
como duas linhas iguais
mas equidistantes.





Sou tudo o que há e o
que não há
paralelepípedos
no raso de meus olhos.





Paredes com pregos
seguram quadros
com retratos mortos
em cinzas maleáveis.





E eu percorro o corredor
com estátuas eminentes
que sobem a escadaria
em direcção ao quarto.





Máscaras lá dentro
recolho uma ao acaso
e me maquio em
um novo sangue.





Saio à rua onde tudo é
disforme e grotesco
um homem se recusa andar
completamente alienado.





E as crianças na sua macia
infância brincam com
o desgraçado
atirando-lhe pedras.





Cães uivam à lua
quando tudo parece
rasgado pelo silêncio
é a noite dos cristais.



A fogueira vai queimando
os livros que os nazis
negaram a luz do dia
e a cultura vai nua.





Meus olhos sangram
é preciso a ferida
para saber como foi
e como será doravante.







Jorge Humberto
17/06/10

POEMA EM LINHA II



Acordas para o fulgor da manhã
com um sorriso rasgado e um cumprimento
que faz lembrar brinquedos em mãos de criança.

Teus olhos rasgados pelo amanhecer
Têm mil histórias que contar e encantar
com a tua serena presença a marcar passo.

Dou por mim embevecido pelas tuas doces
palavras e de cada vez me sinto mais apaixonado
pelo teu ser aprazível com olhos de bem despertar.

Cândida tu és presente figura de meus dias
de solidão em que procuro o verbo advir
nos poemas que vou delineando na folha branca.

Só tu tens o condão e o dom de me alegrar
e fazer de mim um ser superior às minhas parcas
forças enquanto elevo teu nome aos deuses.

Amada és como mais ninguém neste mundo
pois és o jardim que eu semeei com as mais
luzidias e frondosas flores que aqui têm seu nascer.

És a minha namorada a musa desejada
que tem sempre uma palavra de carinho para
comigo e me inspira os mais ternos vernáculos.

Contigo atingi a felicidade que nem a distância
consegue impedir o que vai em meu coração
ao qual reparto contigo como todo o meu bem-querer.

Hierática senhora de meus sonhos mais escondidos
vais por mim como um pássaro pelo azul do céu
procurando a sua companheira e amante.

Doce criatura ouve este planger de poeta
que te diz mulher amada musa de meus
escritos mais profundos na rudeza dos homens.

E eu sou feliz assim contigo a meu lado
para onde quer que eu vá no mais alto de mim
soletrando o teu nome como num ritual preciso.

Vem amada fica comigo nesta noite
em que o silêncio é mais profundo e dolorido
mais do que é de machucar se estou sozinho.

Jorge Humberto
16/06/10

SOU TUDO O QUE HÁ E O QUE NÃO HÁ

Tenho uma mão cheia de nada
na outra o Mundo e tudo o que
nela cabe,
saber atender às duas
é esforço que não me nego.

Quando passo por mim indolente
tenho as mãos vazias
com grãos de areia a esvair-se
por entre os meus dedos
caindo a meus pés insolentes.

Se por mim passo e vou contente
tudo que há na Terra é meu
e não lembra a quem esqueceu
os momentos de pura
difamação e apatia.

Deito meu corpo cansado à
beira rio
fecho os olhos ao sol que me dá
defronte e todo o vermelho
é meu e em mim adormeceu.

Sou um pequeno vagabundo
calçando estradas e o que não há
se de mim foge o sonho
calcorreio caminhos
procurando quem lá está.

E vou daqui para outra parte
procurando o meu reverso
se em mim é e cabe
sou rei em terra de cegos
e sou talvez controverso.

Na orla do rio sou poeta
no mar ao largo o que houver
se me tento disciplinar
não sou aprumo nem regra
e resguardo o que lá couber.

Jorge Humberto
12/06/10

terça-feira, 15 de junho de 2010


MEU AMOR VAI POR MIM…


Meu amor vai por mim
como o bem pouco que me resta
sou ser comprometido
com minha alma gémea.



Pouso na minha mão sua mão
e sorrio-lhe em silêncio
para não intimidar a paisagem
circundante.



Teus olhos à altura dos meus
dizem do amor que vai entre nós
e erguemos frondosos jardins
nos meus olhos rasos de água.



Conheço cada traço de teu rosto
teu ser angelical
cada silêncio e cada sombra
de tua pessoa apaixonada.



E eu vou-te contando as minhas
coisas aos poucos para que não
tenhas medo quando começares
a conhecer os meus segredos.



Sou tudo o que resta aqui
e passei-o os meus dedos pelo silêncio
dos teu traços que conheço
como mais ninguém.



Tu aceitas meus carinhos e sorris
para mim solene e humilde
dizendo-me baixinho que me
amas como tudo o que é de bem querer.



Inda que longe um do outro
a paisagem abre-se ao nosso contacto
e nós nos dividimos
e somos esperança e sol a reluzir.



Meu amor por ti não tem queixumes
somos dois seres que se aparentam
de forma similar aos anseios
de cada um.



Jorge Humberto
15/06/10

HERMAFRODITA

Passo por mim como se fora outro.
Nada me diz aqui em contrário.
Fluiu naturalmente ao
encontro de novas sensações,
a serem colhidas do outro
lado de minha pessoa.

Se estou não sou eu quem me diz
mas o contrário de mim como um sócia,
comprometido com minha
natureza hermafrodita,
que age de acordo com o momento
presente ou ausente de frivolidades.

Vou de acordo comigo mesmo.
O sol doura e enche meus olhos de
vermelhos e amarelos.
E eu dou por mim como um ser activo
e interactivo
cujo expoente máximo é a sua dualidade.

Ah, ter algo para fazer e não o fazer,
ser simplesmente segundo a mãe
natureza,
que a tudo preside e tudo sabe.
Não ser mais do que a minha mão
alcança, o zénite da presença secular.

Meu ser dócil em contra partida
com o meu eu fortemente presente.
O activo e o superlativo interligados
por uma mesma membrana,
água pura que corre por mim como um rio
crescente.

Jorge Humberto
14/06/10

MEU PASSARINHO MEU ENCANTO

Surgiu-me por estes dias
em minha casa
um companheiro de penas laranja
um menino ainda de meses de vida
com a alegria
e a ginástica próprias da idade.

Ainda não canta mas já vai
trauteando
algumas canções de deixar encantado
quem quer que o escute
andando de cá para lá na
gaiola onde recebe seus amigos pardais.

Sua figura esbelta e jovem é a inveja
dos poleiros cá da zona
e quando lhe digo para ir buscar
uma sementinha
ele mostra-se feliz com a sementinha
no bico andando de cá para lá me mostrando.

Depois de ter perdido o meu canário
branco que muita tristeza me deixou
foi bom receber
este novo companheiro
novo na idade (conta meses)
e novo cá em casa.

É um animal muito querido
sempre pronto a mostrar-me as maravilhas
que ele faz ao voar
e aqui e ali já vai tentando cantar
chamando-me à atenção
e de seus amigos pássaros.

Por toda a tristeza que passei
com a perda do meu Branquinho
não podia vir em melhor hora um novo
companheiro
para alegrar meus dias e noites
com a sua invicta juventude.

Jorge Humberto
14/06/10

QUADRO COM MULHER

Cabeça deitada,
por sobre o braço direito,
apoiando-se este
nas costas do sofá,
olhar vago e distraído
(quem sabe o que sonha),
diz de tua disposição
enquanto lá fora chove.

A um canto uma mesinha,
onde repousa um
copo de chá e um livro antigo,
aberto ao acaso
e a chuva que cai pelos vidros,
criando lágrimas
de um passado,
que teima em vir à luz do dia.

Que pensarás tu doce mulher,
aí sozinha na sala,
sentada sobre o sofá,
que olvidas a chuva que cai?
Que te esqueceu o livro,
que o largaste ao abandono
e nem a sede te veio
deixando o chá para trás?

No silêncio da sala,
suspiros ecoam na tarde…
cabeça deitada por sobre
o braço direito, com que se apoia
no sofá, que pensarás tu mulher,
que te esqueceste do livro aberto
e o chá que ficou por beber,
aí onde a chuva bate nos vidros?

Jorge Humberto
11/06/10

ENTRE O SONHO E O PENSAMENTO

Em um céu azul de azuis infinitos
escrevo meu poema à beira-rio
aqui não há lugar a proscritos
enquanto a vela queima de fio a pavio.

Minha pena discorre sem parar
na folha alva à sujeição
o que eu queria era não acordar
e deste sonho não ter mão.

Mas o sonho é pequeno para mim
e meu pensamento a revoltar-se
cria jardins de sândalos e jasmim
e tudo o mais que não queira olvidar-se.

Penso como quem respira não há ilusão
que restrinja o seu apogeu
e se hás vezes fala a voz do coração
é porque é mais forte do que eu.

Vou pela natureza a vaguear dolente paz
que não é minha mas me pega pela mão
quando aqui tudo aquilo que é capaz
é fruto de uma qualquer frustração.

E estou em mim e não sou eu
carrinho de rodas que roda sem parar
só a palavra etérea me comprometeu
só eu sou capaz de aqui criar.

Meu poema é findo e seu fundamento
qualquer coisa me diz alegada poesia
e eu vou por mim como num entretimento
a chamar às noites amanhecido dia.

Jorge Humberto
11/06/10

TENHO UMA FOLHA EM BRANCO

Tenho uma folha em branco
foge-me da ideia o poema
meus ideais de quebranto
o testemunho e o teorema.

Não sei todavia o que escrever
se o que penso se o que sinto
talvez descrever
o que é em mim e somente minto.

A minha pluma flui inerente a tudo
se não houver aqui o que dizer
mais vale o poema mudo
que tem sempre muito por onde se ler.

E a inspiração está arredia
não consigo contornar este problema
transformo as noites em dia
sem fazer uso de grande esquema.

E assim nasceu mais um verso
chove em mim nos meus pensamentos
de tudo o que lhes mostro é o reverso
de todos os remédios e unguentos.

A folha alva vou preenchendo
com uma poesia de gritos
só fico aqui temendo
criar quaisquer atritos.

E assim nasceu mais um poema
que antes de o ser já o era
na minha alma lânguida o dilema
de tudo o que lá aprouvera.

Jorge Humberto
10/06/10

NUM CÉU DE SAUDADES


Num céu de imensas saudades
as nuvens trazem até mim
o teu rosto querido e amado,
que minha imaginação e o meu
amor encarregam-se de
me fazer lembrar.

Hoje não estás… mas tu estás
sempre a envolver-me com teus
braços acolhedores
e em silêncio falas-me
desde a tua lonjura,
que passa por mim como num sinal.

Um sinal de dois amantes
que se perdem no bem-querer
e no bem despertar de nossas
almas circunspectas,
que se juntam quando tudo
o mais é vazio.

Não sei mais passar um segundo
sem ti sem tua presença,
rica e afectuosa,
que faz de mim um homem
completo
na complacência do dia.

E no orvalho da manhã
recorro aos meus versos para
te dizer do silêncio que vai em mim,
quando é de ausência a tua graça
e me refugio no poema plasmado
como um cenho em meu coração.

A dor da ausência
não me sossega e eu crio asas,
para voar até onde és tu a sós,
comprometida com a vida,
na palavra erigida na
minha alma desassossegada.

Vejo-te à janela
onde costumamos conversar e requerer
a paz necessária, a este
amor tão puro que se vai fomentando
mais e mais,
como numa figura etérea de mil sóis.

Jorge Humberto
09/06/10

NUM CÉU DE BORRASCA


Num céu cinzento de borrasca
a chuva cai sem cessar,
por toda a aldeia.

As folhas estão carregadas
por causa da absorção da água
e os ramos desenham figuras
molhadas.

O nível do rio subiu e galgou suas
margens, deixando
a orla lamacenta e poluída.

Os carros circulam de luzes
acesas e em passo
desacelerado,
não vá a má sorte bater-lhes à porta.

As pessoas correm a
abrigar-se das águas que caem
imperiosamente e sem sossego.

Ainda assim os pássaros
cantam nas copas
das árvores
verdes escuras.

Uma leve brisa torna-se vento
imune às chuvas
molhando o granito das casas.

E as cores tomam uma tonalidade
parda
com as nuvens ameaçando
trovoada.

Acerco-me da janela para
observar
e retiro-me para escrever.

Chove sem parar.

Jorge Humberto
08/06/10

NATUREZA MORTA II



À luz fosca da tarde
frutas sumarentas e uma
garrafa de licor
preenchem
este quadro de uma natureza morta.

As cores são fortes e vivas
e quem bem reparar
mel verá saindo das uvas
e as parras se enredam
nos cachos expostos.

Os pêssegos estão amadurecidos
nas suas cores
amarelas e
as ameixas apresentam
uma tonalidade roxa.

Uma maçã vermelha
esconde-se entre a uva branca
e as folhas de parra
amarelas e verdes
completando o quadro.

Jorge Humberto
08/06/10

segunda-feira, 7 de junho de 2010


LÁ ONDE TUDO SE PERDE

Lá onde tudo se perde e tudo se constrói
novas cidades são erigidas em nome
do progresso e da mais-valia social.

Lá onde impera o verde e as florestas
não há quem se negue a desbravar
árvores sem respeito pelo futuro dos filhos.

Lá onde a rocha se esbate contra o mar
é tudo o que nos resta da natureza
fortemente resplandecente e natural.

Lá onde o homem poisa mãos e algoz
o futuro é tristonho e falecido
e as casas proliferam sem organização.

Lá onde somos nós a sós a destruição
toma tamanhos desproporcionais
sem ter porque haver ou querer.

Lá onde antes existiam árvores e flores
agora temos casas com luzes de néon
com a vaidade a passear-se pela passarela.

Lá onde os animais reinavam impunes
e verdadeiros agora é só cimento armado
e jardins de pedra com candeeiros a adormecer.

Lá onde fomos um dia homens e mulheres
já nada resta desse passado glorioso
sobram os carros e as auto estradas.

Lá já nada existe que nos prenda a não
ser aparências e mal educação sem tempo
para o tempo que nos resta orgulhosos e sós.

Jorge Humberto
07/06/10

NAS MÃOS AÇUCENAS


Nas mãos açucenas, na boca uma rosa,
beijo presumido na distância…
roubaste-me os lírios e a prosa
que eu te quis deixar com elegância.

Nas mãos as tuas mãos a conceder,
o espaço que vai entre mim e ti,
amor é fogo que arde sem se ver
e eu que só te quero ao pé de mim.

Na fonte branca de pedras antigas,
teus pés descalços por sobre a erva,
fazem alusão a mil cantigas,
com o toque acentuado de Minerva.

Meu amor por ti não tem fim,
é um renovar a todo o instante,
e eu puxo-te para junto de mim,
para que de ti não me julgues distante.

Nos meus braços te acolho mulher,
menina e moça de meu coração,
se eu julgar o que ela quer,
intensa será a nossa paixão.

E tu acolhes-me em teu regaço,
no colo sempre protector,
e estes versos que aqui te faço,
falam de nós e de um grande amor.

Nas mãos açucenas, na boca uma planta,
jasmins e nardos a condizer…
que tudo aquilo que nos encanta
é o nosso testemunho: viver.

Jorge Humberto
06/06/10

AO MAR

Entre o marulhar das ondas
cavalos de espuma
desaguam à beira mar
trazendo o canto insólito dos búzios.

Meus olhos fitam a horizonte
o azul do oceano a compor
belas melodias e os portos
onde vai amainar seu alimento.

Meu pobre mar reveza-te
o sonho azul e grandioso e
ficam-te os corais destruídos pela mão
do homem que não te respeita.

Mas quando o sonho é grande
tudo se consegue
e galgos vão por cima das ondas
a todo o galope até à beira praia.

As dunas estão assoreadas
é preciso o enfoque da palavra
aqui para que a areia seja
reposta como o bem-querer.

Navegam por ti pontos negros
de navios e tu vais levá-los
a bom porto na ida e na volta
vindos de lá detrás do horizonte.

As gaivotas alimentam-se de
teu peixe graúdo ou miúdo
e é emocionante a cena ao
entardecer de tudo que tem fim.

Oh, mar, da minha infância
quem assim te quer mal
serão a tua força para continuares
no teu fluxo e refluxo.

Jorge Humberto
05/06/10

O HOMEM AINDA É CAPAZ

De boa índole quero ver o Homem
magistralmente humilde e flexível
onde nada do que diga seja posto
em causa, por preconceitos pueris.

Que, a personalidade, seja a chave
para a repercussão no mundo aziago
em que vivemos, construindo
alegres cidades onde todos vivam

Irmanados. Que a cobiça seja longe
e a vaidade não tropece a nossos pés,
para sermos melhores seres humanos
onde impere a sabedoria e desponte

o sol detrás do horizonte, para um
novo dia, que todos já merecemos
de há muito. Que a omissão seja
arredada de nosso vocabulário para

sempre e sejamos capazes de doar
sem medo de ficarmos a perder por
coisas banais a que agora infelizmente
ainda damos muita importância.

O importante são as pessoas e o seu
bem-estar, não podemos olvidar-nos
desta premissa, porque o resto é nada
ilusão ou pura demagogia a centrar-se

na nossa vida. Temos de ser fortes e
ultrapassar a mesquinhez própria do
ser humano, doarmos sem medo de
perder seja o que for pois ganhamos

em amizade, que os outros nos hão-de
conceder, como o bem que lhes resta e
foram buscar, ao mais íntimo de suas
pessoas, é preciso acreditar já e sempre.

O Homem só tem a ganhar com isso
em ser altruísta e a pensar nos demais
como um seu semelhante, que vai de
aqui para ali e se fixa doravante em nós.

Jorge Humberto
04/06/10

OMNIPRESENÇA

Quando partes para parte incerta
meu coração chora demoradamente
não sabe de si nem de parte certa
pretende saber de ti avidamente.

Um adeus sabe nesta terra deserta
que é pura ilusão lutar paulatinamente
pela então certeza mais incerta
que é ter-te aqui à minha corrente.

De lágrimas rasos os meus olhos
chuvas mil caem aqui por perto…
não há rosas nem nardos aos molhos.

Vem… vem que aqui te espero
se vieres para os meus braços é certo
és tu tudo o que eu mais quero.

Jorge Humberto
03/06/10

MEU SER CONSCIENTE

Meu ser consciente diz-me das guerras
da pobreza que grassa cada vez mais
dos meninos que pegam em armas
das mães que não têm leite para os seus filhos.

Meu ser consciente e atento sabe que
há muita contra informação para alimentar
fundamentalistas cobertos de sangue
inocente, a custo zero pois somos meros peões.

Meu ser consciente sabe dos diamantes
em África e dos que neles trabalham como
escravos e sabe ainda das mãos decepadas
por um carrasco que viu um diamante escondido

na bolsinha esfarrapada de um trabalhador.
Meu ser consciente sabe que o todo poder
é pura ilusão e que se comentem os crimes mais
atrozes em nome dos senhores da guerra.

Meu ser consciente sabe de muitos soldados
afectados mentalmente pelas sucessivas guerras
e que esses homens não voltam mais ao mundo
da realidade, pobres cotos que se viram ultrapassados.

Meu ser consciente sabe da pobreza envergonhada
por esse mundo afora, quando preferem esconder
a enfrentar a dura mas exequível batalha
por um sítio melhor para todos, sem excepção.

Meu ser consciente sabe do passeio das bonecas
crianças que se prostituem a troco de dinheiro
para a droga, até ser tarde demais para se fazer
alguma coisa que as tire das garras da morte.

Meu ser inconsciente acredita que somos capazes
de mudar tudo isto, mas é pura ilusão fazer o
Homem crer em si e no seu potencial, pois há muito
está enraizado em todos nós que tudo isto é banal.

Meu ser consciente vive com a razão e a sabedoria
e sabe que só a auto consciência pode levar-nos
pelo caminho certo, em prol de um mundo melhor
onde cada um possa usufruir de seus direitos.

Meu ser consciente é uma criança grande
passeando de mão dada com a lealdade e a
amizade, na pura humildade de quem nasceu
para ser livre e escorreito, sem maldade.

Jorge Humberto
03/06/10

A PEQUENA ESTÁTUA

Boneca de porcelana lança sua
sombra no intervalo das paredes
e sua figura se agiganta quanto
mais lhe dá a claridade do sol.

Ali parada assume posição hierática
ante todos os pormenores de todos
os outros objectos, dispostos pela
galeria da casa maravilhosa.

Abajures assemelham-se a passados
que não voltam mais e cobrem os
livros na sua ténue luz, quase
romântica, quase impar no discorrer.

As janelas estão semi cerradas prá rua
e vem até nós a doce fragrância dos
Nardos e Sândalos que abundam nas
traseiras da casa desconhecida.

Escrevo este poema à média luz
aquela pequena estátua que a sombra
nivela por baixo até alcançar outro
patamar, subindo pelas escadas.

E na antiga galeria máscaras grosseiras
e provocadoras têm pregos na parede
enquanto isso todos dormem
na casa que poucos visitaram até agora.

Jorge Humberto
02/06/10

TEUS OLHOS NOS MEUS I

Teus olhos nos meus dizem
de nós e de como nos amamos.
Os gestos são libertos
o querer é acentuado pela voz.

Nada aqui é do acaso perene
tudo se transforma como num
abraço que dispensamos um
ao outro até nos sentirmos

realizados. Corremos mãos nas
mãos, qual duas crianças
que enfeitam o dia com a graça
de seus dias felizes.

Nossos sorrisos são como gargalhadas
sonoras, para todos ouvirem
como é doce e forte este nosso
amor que se prontifica a cada instante.

A nada escondemos o que nos vai
na alma e no coração, doce brisa
que faz as folhas agigantarem-se
nas árvores prenhes de vida.

E assim seguimos felizes um no
outro, que o que é meu é teu e o
que é teu é meu sem pudores
nem preconceitos supérfluos.

Somos qual asa de um pássaro em
direcção ao azul celeste e do sol
somos o horizonte a perder de vista,
na orla do mar com cavalos de espuma.

Não há amor como este pois este
amor nasceu do amor profundo
no respeito de um para com o outro
no querer que tem muita força.

Vem meu amor caminhemos em
direcção ao futuro, cuidando um do
outro como dois seres que se querem
bem e não sabem mais estar sozinhos.

Jorge Humberto
01/06/10

terça-feira, 1 de junho de 2010


ODE À NOSSA VIDA

Se eu soubesse com antecedência
o que o mundo espera de mim, mais
fácil seria para mim agir, no entanto
mantenho-me humilde ao que me cabe.

Altruísta até mais não dou de mim
o que tenho e o que não tenho,
só sou gente quando estou a dar ao outro
e aos demais que estão à minha volta.

Nunca me pesa ao que dou porque
dou sem dizer que o faço e me afasto
dos louros e das glórias efémeras,
com a maior das facilidades que sói fazer.

Sei perdoar a quem me tem ofendido
mas não sou obrigado a conviver com
a má energia emanada por certas pessoas,
aí me abstenho e sigo a minha vida.

Não sou omisso sou bem claro no que
quero para as pessoas, para o mundo,
que estes se irmanem e acabem com
a cobiça pelo dinheiro e pelo poder.

Este mundo, este mundo é um desejo
de poder e nada mais, possamos reverter
este sentido e sermos mais activos
no que queremos para nós próprios.

Sermos mais humildes precisa-se aqui
dar como quem não dá, falar como
quem cala, na profunda convicção de
que o mundo espera de nós e nós

esperamos do mundo. Temos por isso
de aprender a ser mais flexíveis
e não termos medo de nos entregar
aos nossos irmãos mais próximo de nós.

Despirmo-nos de todos os preconceitos
e de estigmas nos libertarmos, deixará
os negros corvos da inquisição sozinhos
e sem hipóteses de nos difamar.

He-la-ô! He-lá-ê! Vamos construir um
mundo novo onde todos se entendam
usando a mímica do corpo e dos olhos
para usufruirmos do bem-estar agora.

Jorge Humberto
31/05/10